Graça vs Obras
- Pedro Graton
- 26 de ago.
- 3 min de leitura
A graça de Deus está longe de ser uma simples denominação, um conjunto de usos e costumes ou apenas um grupo de pessoas reunidas. Ela é uma realidade viva, revelada progressivamente ao longo de toda a Bíblia. Desde o começo, o sentido da graça é claro: favor imerecido.
A primeira vez que a palavra “graça” aparece nas Escrituras está em Gênesis 6:8:
“Porém Noé achou graça aos olhos do Senhor.” (Gênesis 6:8)
No original hebraico, o termo usado é חֵן (chen), que pode significar favor, afeição ou beleza. No caso de Noé, esse termo expressa o favor de Deus em meio a uma geração completamente corrompida. Deus demonstrou bondade a Noé, não porque ele merecia, mas porque Ele quis assim. Essa graça que o alcançou diante do juízo aponta para algo muito maior: a salvação que viria por meio de Jesus Cristo. Assim como Noé foi preservado no meio da condenação do mundo, Cristo é hoje o redentor de todo aquele que crê.
João nos lembra que:
“Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.” (João 1:17)
Nesse versículo, escrito em grego, a palavra usada para graça é χάρις (cháris), que também significa favor, bondade ou beleza. Em Jesus, essa graça deixa de ser apenas uma ideia abstrata e se torna algo real, encarnado. Ele é a graça viva de Deus entre nós, graça que salva, transforma e conduz à vida eterna.
A graça, então, é o favor imerecido de Deus revelado na cruz. Ali, Cristo deu Sua vida por pecadores que nada podiam oferecer em troca. A salvação não é um prêmio por bom comportamento, mas um presente divino. É pela graça que pecadores são reconciliados com Deus, não por esforço próprio, mas por aquilo que Cristo conquistou.
No entanto, muitos ainda hoje confundem isso. Alguns acreditam que podem alcançar a salvação por meio das obras, tentando “merecer” o céu com boas ações ou religiosidade, mas isso distorce completamente o Evangelho. A própria Escritura nos corrige:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios 2:8-9)
A salvação não é resultado das nossas obras, mas a salvação verdadeira sempre produz boas obras. O versículo seguinte completa o raciocínio:
“Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Efésios 2:10)
Esse é o equilíbrio bíblico: as boas obras não causam a salvação, mas mostram que ela aconteceu. São evidências visíveis de uma fé viva e verdadeira. Tiago deixa isso bem claro:
“Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.” (Tiago 2:17)
Se alguém diz ter fé, mas vive sem arrependimento, sem obediência a Deus, sem mudança de vida... talvez precise olhar com sinceridade para o coração. A ausência de frutos pode indicar que nunca houve, de fato, nova vida, mas mesmo assim, é importante lembrar: a presença de boas obras não anula o fato de que a salvação continua sendo imerecida. Nenhuma obra, por mais bonita ou piedosa que seja, pode melhorar ou completar o sacrifício perfeito de Cristo.
A salvação é inteiramente pela graça, do início ao fim, e as boas obras são o resultado lógico dessa graça operando dentro de nós.
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